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sexta-feira, 15 de julho de 2011

A Fé e a Saudade Convivem



  
A FÉ E A SAUDADE CONVIVEM

Molina Ribeiro


 A vida é feita de perdas. Há um mês perdi, a minha mãe. No velório encontrei uma grande amiga que há muito tempo não via.  Minha mãe morreu após meses de internação. Tinha mais  de 90 anos. Minha amiga abraçou-me demoradamente e eu chorei em seu ombro a saudade. Disse-lhe  entre prantos . –“ Meu pai já foi, meus tios morreram e agora, minha mãe”.
    Ela ouviu meu lamento sem praticamente nada dizer. Apenas  a linguagem do abraço e do olhar.
    Então eu lhe disse. –“Nos momentos mais dificíeis da minha vida, era no colo dela que eu deitava. E ela calmamente brincava com os meus cabelos”. E prossegui: “Será difícil voltar para casa e, arrumar as suas coisas”. Minha amiga é católica fervorosa e ainda, carismática. Logo depois chegou o padre para a oração de corpo presente. Rezamos juntas. E cantamos “- Segura na mão de Deus e vai!...” E cheias de fé, entregamos minha mãe nos braços do Pai..
    Eu tenho muita fé. E tenho muita saudade também. A fé, e a saudade convivem. Vê-se que a trajetória humana ninguém a pode traçar ou prever. Nos próprios revezes,as vezes é sempre dolorosa. Temos  a triste consciência de que os abraços, os olhares, as conversas e convivências, enfim acabaram.
    Vivi isso nas tantas despedidas de minha vida. Meu pai, meus tios, primos, meus avós, amigos... chorei com os meus. Meu único e derradeiro tio, Onildo Moura Cruz consolei-o e por ele fui consolada. Muitas vezes ofereci o meu colo para que minha mãe chorasse. E depois revezamos. E depois levantamos. E apesar da dor,  prosseguiamos .
    A dor é uma experiência humana. É necessária. Ela tem um poder impressionante de melhorar algo em nós se nos abrirmos para esse aprendizado.
    Quando minha amiga deixou o velório, ligou para sua mãe e renovou todo carinho e amor que tem por ela. E fiquei  imaginando que as palavras não ditas se perderam em algum lugar difícil de encontrar.
    Quantas histórias de remorso, arrependimento tardio das despedidas que não aconteceram! Brigas tolas. Problemas acidentais. Emoções travadas. E desperdiçamos o tempo de delicadezas.
    Faço um convite a você que tem pai e mãe, que tem  irmãos e amigos que tem filhos. Não economize  nos sentimentos de afeto. Convide o perdão a morar em sua casa. Peça à vingança, ao egoísmo  e a raiva que se retirem. Aproveite o  tempo precioso para dizer “eu te amo” a quem você realmente ama..
    Eu voltei para casa. Com certeza, a minha amiga rezou para que Deus acolhesse minha mãe.E depois, então, mais  tarde irei me sentar no  sofá em que tantas vezes minha mãe me acolheu e chorei a saudade incômoda. É assim mesmo! Até a eternidade!

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