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domingo, 19 de fevereiro de 2012

Um Ano Sem Minha Querida Vovó


UM ANO SEM MAMÃE

                                                     Molina Ribeiro

   No dia 30 de janeiro, corrente, já está fazendo um ano da ausência de minha mãe Maria de Lourdes Moura Ribeiro. De aço e de flores, era assim a minha mãe. O aprimorado da vida insiste ainda em nascer dos contrários.
    O que sei de mim, pela força da saudade, por vezes, me esqueço. A penumbra de minha alma não é sem razão, assim como tudo na vida. Nada é por acaso, me encontro recolhida. Estou esquisita. Ando sem paciência...
    Cada doido com sua mania. Eu tenho as minhas, mas não conto. Tenho medo de me sentir frágil por me expor. Contar as fraquezas é uma forma de virar vítima. Aprendi muito cedo que o desejo é o rosto do pecado.. Qualquer forma de alegria já é agravo contra Deus. Olho para os santos e descubro essa verdade. Não há sorrisos nessas imagens. Não há espaço para manifestações felizes nos altares. A vida santa é dor, é calvário, é sacrifício.
    Minha falecida mãe já dizia que a quaresma é o tempo dos santos. Aprendi que quando uma pessoa morre, está na quaresma. O que como vê Deus são joelhos esfolados e boca seca de jaculatórias, falas cansadas repetindo clamores. Temos um exemplo nessa família, Áurea Moura Ribeiro, mas conhecida por Aurinha. não é Gracilete?
    Me lembro bem, Semana Santa.O roxo nos altares cobria as imagens .Uma tristeza superior sobrepunha-se  às costumeiras.  A banda municipal entoava marcha fúnebre, enquanto a procissão arrastava-se em longa e prolongada tristeza. Sofríamos por tudo. Pelo real, pelo imaginário. Chorávamos por todas as causas. Coletivas e particulares. Catarse pública, sem necessidade de explicações. Choros calados represados ao longo do ano. Sofrimentos escusos, secretos, vergonhosos. A agonia do crucificado justificava qualquer forma de lamento.
    Eu mesma já chorei muito na procissão do encontro, aquele momento dramático em que a Virgem das Dores depara com o filho e seu algoz, por razões que tenho vergonha de contar, é quase uma blasfêmia isso, mas essa era a verdade. Ao invés de pensar no sofrimento da mãe de Deus e de contemplar misticamente os últimos passos de Cristo
na terra, eu ficava era remoendo o passado...
    Uma das grandes obras construídas por minha mãe, foi a Casa da Criança Dr. João Moura, esta permanecerá para a  eternidade. Não tenho vergonha de dizer, a saudade de minha mãe está acabando com os meus dias de vida, mas o meu pote de ração eu não deixo esvaziar nunca. Sou de aço, não quebro. Há coisas que a morte não sepulta porque pertence a vida eternizada. Minha mãe está em mim. E liturgicamente eu posso, repetir: Ela vive. Ela reina. Ela está no meio de nós!